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Arte de Elaborar um Charuto

Fazer charutos é uma obra de arte.
Conheça alguns detalhes do processo de produção dos charutos premium.

 

Cultivo do tabaco

 

As plantas de tabaco são semeadas em locais cobertos e transplantadas para os campos após um período que varia de seis a dez semanas. Nesse momento o desbaste é feito para que as folhas cresçam mais fortes e atinjam o tamanho necessário. Aquelas que produzem as folhas que servirão como capa para os charutos são normalmente mantidas sob uma cobertura conhecida como tapado, para protegê-las do sol.

Secagem

 

Após a colheita, as folhas de fumo passam por um processo de secagem, a fim de desenvolverem o aroma característico. Isso acontece quando as folhas deixam de ser frescas e flexíveis, com coloração verde brilhante, e adquirem tonalidade marrom ou amarelada. Quimicamente, a clorofila que existe naturalmente nas folhas aos poucos vai se quebrando, sendo substituída pelo caroteno. Para secar, as plantas que foram colhidas são posicionadas em estreitas ripas de madeiras, penduradas no telhado de um galpão específico, com boa ventilação. Em períodos de tempo seco, as folhas podem ser curadas simplesmente sendo penduradas, esse processo é chamado de secagem ao vento. Em outro método de secagem as ripas são penduradas em um pequeno celeiro que é aquecido a uma temperatura entre 32,2°C e 77°C. Essa temperatura é cuidadosamente monitorada para evitar uma secagem muito rápida. Serragem ou lenha podem ser queimadas no celeiro para ajudar a secar as folhas e melhorar o aroma.

 

Fermentação

 

Depois que as folhas foram curadas, elas são selecionadas por cor e tamanho. Folhas pequenas ou quebradas são utilizadas no miolo, folhas mais largas são usadas como capote, e folhas largas e de boa qualidade, normalmente crescidas à sombra, são separadas a fim de serem utilizadas como capa. As folhas são amarradas em feixes de 10 ou 15 folhas cada. Esses feixes são colocados em caixas ou barris largos conhecidos como barricas. O fumo é mantido nas barricas por um período que varia de seis meses a cinco anos. A folha passa por uma mudança química durante esse período, conhecida por fermentação. Durante a fermentação, o aroma e o sabor das folhas se desenvolve. O tabaco utilizado para charutos normalmente é fermentado por um período mais longo que outros tabacos.
Folhas fermentadas por períodos que variam de dois a cinco anos são normalmente utilizadas em charutos de alta qualidade. Depois da fermentação, as folhas já previamente selecionadas por “blends” que darão as características de cada charuto são postas em quartos de cedro.

 

Retirada do talo

 

As folhas do miolo devem ter seu talo removido, caso contrário o charuto não queimará uniformemente. Esse processo pode ser feito à mão ou à máquina. Manualmente, o trabalhador utiliza uma ponteira presa ao dedo e corta o veio próximo à ponta e o arranca fora. Depois disso coloca as folhas já sem o talo em pilhas.
Mecanicamente, o trabalhador insere a folha de tabaco na máquina sob uma faca circular. Pressionando um pedal, faz com que a faca abaixe e corte fora o talo, depois ele para a máquina e empilha as folhas sem talo.

As folhas limpas são amarradas em fardos e armazenadas para nova fermentação. Caso a produção final seja em outra localidade, os fardos já estão prontos para o transporte. Pouco antes das folhas serem utilizadas para a fabricação dos charutos, elas levam um banho de vapor para restaurar a umidade que foi perdida e então passam por uma nova seleção.

 

Enrolados à mão

 

Charutos finos são enrolados à mão. Este é um trabalho que exige habilidade: pode levar cerca de um ano para que um torcedor se torne um verdadeiro profissional. O miolo deve ser colocado de maneira uniforme para que o charuto queime suavemente e a capa deve formar um espiral perfeito em torno do charuto. Esses torcedores normalmente trabalham em pequenas fábricas. Cada um deles senta-se em uma pequena mesa com uma bandeja cheia de folhas de tabaco já devidamente selecionadas e um pequeno espaço para torcer os charutos. Primeiro, o trabalhador escolhe de duas a seis folhas para compor o miolo. Estas são colocadas uma em cima da outra e enroladas como um pergaminho. Depois, o feixe é colocado sobre a folha que formará o capote, então esta folha é enrolada de maneira cilíndrica em torno do miolo. Os charutos inacabados são colocados em um molde de madeira que os mantêm no formato correto até que possam ser encapados.
Encapar é o passo mais difícil. O torcedor tira o charuto parcialmente completo do molde e o coloca sobre a folha que será a capa. Com uma faca circular especial chamada de chaveta, o torcedor apara qualquer irregularidade que haja no miolo. Então ele enrola a capa ao redor do miolo e capote e prende a ponta com uma pequena quantidade de cola vegetal. Depois, corta um pequeno pedaço arredondado de outra folha. Esse circulo é colado na ponta do charuto, formando o que chamamos de “cabeça”. Assim sendo, o torcedor terminou de preparar o charuto, mas este ainda precisa ser testado, selecionado e embalado.

 

Enrolados à máquina

 

Muitos charutos produzidos hoje em dia são feitos à máquina. Uma máquina de charutos comum requer vários trabalhadores para executar diferentes funções. Um deles posiciona as folhas de fumo em uma cinta de alimentação entre barras que são ajustadas de acordo com o tamanho de charuto desejado. A máquina enrola as folhas formando o miolo. Outro funcionário coloca a folha que servirá de capote em um molde. A folha fica presa por sucção, a máquina então corta a folha no tamanho correto. O miolo cai sobre o molde e a máquina enrola o capote. Um terceiro funcionário posiciona a folha da capa em um molde. O charuto parcialmente completo cai sobre este molde e a máquina enrola a capa. Um quarto trabalhador inspeciona os charutos já completos e os posiciona em bandejas.

O produto finalizado é entregue ao inspetor que examina os charutos buscando imperfeições e confere se eles têm o peso ideal, o tamanho, o formato e também se a capa está em perfeitas condições. Ele corrige as imperfeições remendando a capa ou remodelando a cabeça.

 

 

Controle de qualidade

 

A qualidade dos charutos é verificada a cada passo do processo de fabricação. A perfeita condição das folhas de tabaco é muito importante, por isso são selecionadas e inspecionadas depois da secagem, da fermentação e antes de se tornarem efetivamente charutos. Após a finalização o produto é checado para confirmar o diâmetro, peso e tamanho, se há imperfeições na capa ou no formato e se produzirá boa puxada. As fábricas de charutos empregam pessoal para manutenção do maquinário com o intuito de garantir a qualidade dos charutos. Em muitas fábricas pequenas a inspeção final é feita por um funcionário treinado que coloca o charuto em um anel para confirmar o diâmetro e mede seu comprimento com uma régua. A aparência é fundamental para cada charuto, e uma caixa cheia também deve ser inspecionada para que pelo menos os charutos da camada superior tenham igualdade de coloração. A qualidade da capa deve ser verificada pelo torcedor. A folha de ser leve e estar em boas condições e seus veios devem parecer um espiral uniforme.
Depois que os charutos foram comprados é importante que haja um armazenamento correto, o que normalmente é feito em caixas de madeira especiais ou umidores, onde as condições podem ser cuidadosamente controladas por longos períodos. Mesmo que um charuto fique ressecado, é possível restaurar a umidade, desde que não tenha sido manuseado de forma descuidada e constante.

Ainda assim, a perda da oleosidade original do tabaco irá afetar o sabor.
Alguns charutos, especialmente as marcas premium, utilizam diferentes variedades de tabaco no enchimento e capa. Charutos “long filler” são os de mais alta qualidade, utilizando folhas inteiras em toda sua composição. Eles também recebem uma terceira variedade de folhas, chamadas de sub-capas, que ficam entre a bucha e a capa. Isso permite ao torcedor utilizar folhas mais delicadas e atrativas nas capas. Esses charutos de alta qualidade quase sempre trazem diferentes misturas de tabaco. Mesmo fumos cubanos “long filler” combinam tabacos de diferentes partes da ilha para incorporar diversos sabores.

Finalização e embalagem

 

Os charutos que são aprovados na inspeção são colocados em bandejas e levados a uma máquina onde receberão as anilhas e serão embalados em celofane. Os charutos são colocados em uma espécie de funil e a máquina prende a anilha ao redor dele. A mesma máquina também pode embalá-lo com celofane. Depois disso eles ainda são levados a um funcionário experiente que irá selecioná-lo por tonalidade. Os charutos são separados de acordo com as variações de tonalidade da capa. Produtos com a mesma coloração são colocados na mesma caixa.

Fumar e degustar

 

A diferença entre fumar e degustar um charuto está na atitude. Se o apreciador reserva um momento especial para acender um charuto premium, após a refeição agradável, na companhia dos amigos e de uma saborosa bebida – café, licor, Porto, Conhaque, Madeira, Late Harvest, Moscatel – sem pressa, atento ao sabor e ao aroma, estará degustando. Se agir como os fumantes de cigarro, estará apenas fumando.

 

Acender

A “cabeça” do charuto é a parte que normalmente fica mais próxima da anilha. O outro lado é chamado de “pé”. A anilha identifica o tipo de charuto e pode ser retirada ou não, conforme a preferência do fumante. É preciso cortar a ponta da cabeça, (com cuidado para não cortar demais – o que poderia fazer com que a capa se soltasse, nem de menos – o que dificultaria a puxada), e acender o pé do charuto.

O fumante então puxa a fumaça através da cabeça do charuto, com a boca e os lábios, sem inalar para os pulmões. Quando é aceso, o charuto deve ser rotacionado de modo a conseguir uma queima completa e uniforme.  A melhor forma de acendê-los é utilizando isqueiros de gás butano, porque este é um gás incolor, inodoro e com chama limpa com praticamente nenhum gosto, se é que tem algum. Não é recomendado o uso de isqueiros com fluido ou fósforos de papel, pois estes influenciam no sabor. Outra opção são os fósforos de madeira, pois não são tratados e ensopados com enxofre e com isso o sabor não é afetado, entretanto, recomenda-se que se deixe queimar toda a cabeça do palito antes de utilizá-lo no acendimento, assim, qualquer vestígio de produtos químicos será eliminado.

 

Sabor

Cada marca e tipo de charuto tem sabor diferente. Apesar da capa não determinar completamente o sabor, as mais escuras costumam ser adocicadas, enquanto as claras têm sabor mais seco. Entretanto, o fato de um charuto ser suave, médio ou encorpado não está relacionado à qualidade. Os fumantes tem preferências individuais, alguns preferem um charuto, outros discordam. Alguns adjetivos utilizados para descrever o sabor de um charuto são: picante, apimentado, adocicado, terroso, amadeirado, tostado, envelhecido, cremoso, cedrado, achocolatado, verde, frutado, coriáceo. O ato de fumar um charuto, que raramente é inalado, tem sabor de tabaco com nuances de outros sabores. Existem muitos fatores que influenciam o sabor do fumo: tipo de tabaco, qualidade do charuto, sabores acrescidos, idade e umidade, método de produção (manual ou à máquina) entre outros. Um charuto fino tem sabor completamente diferente do oferecido por um cigarro tragado. Quando a fumaça é inalada, como os cigarros costumam ser, o sabor do tabaco é menos evidente do que se tem quando não se inala. Alguns entusiastas de charutos usam um vocabulário similar ao dos sommeliers para descrever as notas altas e baixas observadas enquanto se degusta um charuto.

 

Por Celso Nogueira
Tradução: Silvana Siqueira
Fontes: http://www.charutos.com.br | https://www.facebook.com/charutos.companhia | Tabacalera de Garcia Factory. Casa de Campo, La Romana, Dominican Republic. | http://www.habanos.com | http://bulldogtabacaria.com.br | http://xyzes.blogspot.com.br | https://commons.wikimedia.org |  http://www.dominicancigars.info

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